Ataque dos Cães
Título Original: The Power of The Dog
Gênero: Faroeste, Drama
Ano: 2021
Classificação: 9
País: Estados Unidos
Platafoma: Netflix
Os irmãos Phil (Benedict Cumberbatch) e George (Jesse Plemons) são proprietários de um grande rancho em Montana, enquanto Phil é uma pessoa de personalidade difícil, George é gentil e sereno. A amizade entre eles vai bem até que George inicia um namoro com a viúva Rose Gordon (Kirsten Dunst) e a leva para morar com ele. Phil é terminantemente contra, achando que há interesse financeiro da mulher, a partir daí ele faz de tudo para tornar a vida de Rose um inferno.
Se a Netflix ainda não tinha um nome forte para o Óscar, Ataque dos Cães chega com muita força para a premiação em 2022, e deverá concorrer pelo menos em três categorias, mas pode mais, já que o filme é uma adaptação do livro homônimo de Thomas Savage, lançado em 1967, o que o habilita para concorrer na categoria de melhor roteiro adaptado, além de trazer atuações brilhantes de Benedict Cumberbatch e Kirsten Dunst.
O filme realmente tem grande potencial, pois é centrado na figura máscula de Phil, espécie de cowboy raiz, que faz questão de andar sempre sujo, beber, e se demonstra extremamente preconceituoso quando se depara com Peter Gordon (Kodi Smit-McPhee), filho de Rose, no restaurante em que ele e os seus empregados foram almoçar, passando a insultar o menino. Ao perceber tal fato, Rose começa a chorar copiosamente, sendo acudida por George, começando então o enlace dos dois.
Quando assume o relacionamento com George, Rose tenta uma aproximação com o seu novo cunhado Phil, mas é insultada, e a partir daí sua vida se resume a beber e a temer o seu assustador cunhado, principalmente quando ele estranhamente se aproxima de seu filho, o que faz com que ela tema pela vida do rapaz.
Com fotografia exuberante, o filme apresenta uma incrível construção de personagens. Salvo o caso do pacato personagem de Jesse Plemons, que até tem momentos de grande emoção no filme, mas que é deixado de lado no segundo terço do filme, os demais personagens importantes na trama são construídos devagar, até mesmo Peter Gordon, que parecia ser apenas um trampolim para a acidez de Phil, se torna um personagem inteligente e importante ao longo do filme.
Mesmo demonstrando o tempo todo a sua faceta ogra, Phil não se furta em tornar pública a sua admiração por Bronco Henry, um cowboy que foi uma inspiração para ele quando menino, e de quem ele herdou parte de sua personalidade. Já Rose Gordon ganha vida a partir da belíssima interpretação de Kirsten Dunst, que faz a viúva amargurada, bêbada, mas protetora de seu filho, que sofre bullying por boa parte dos cowboys do rancho.
Apesar de um pouco lento, entende-se perfeitamente a proposta da diretora neozelandesa Jane Campion (O Piano, 1993), que dedicou tempo suficiente para que cada personagem fosse construído com calma. E o filme passeia por momentos belíssimos e tensos, como uma cena em que Rose tenta tocar o seu piano, enquanto é “remendada” por Phil e seu banjo.
Admirei a forma como a diretora prefere manter algumas questões nas entrelinhas, deixando a imaginação como parte da experiência do espectador, muitas coisas não foram didaticamente apresentadas, porém desenvolvidas, como o caso do alcoolismo de Rose. O filme tem um final abrupto, mas incrível, que faz o espectador juntar as pistas deixadas pela diretora desde a primeira fala do filme. Esse trabalho ainda vai dar muito o que falar!